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Ciência, petróleo e preservação ambiental

Escrito por Edmê Gomes | Publicado: Segunda, 03 de Julho de 2023, 21h27 | Última atualização em Segunda, 10 de Julho de 2023, 19h54 | Acessos: 1021

Laboratório desenvolve pesquisa para os desafios do pré-sal e redução do efeito estufa

#ParaTodosVerem: Fotografia do professor da UFPA Pedro Aum. Ele está de pé, sobre uma base de concreto, à frente do rio Guamá. O professor usa camisa social na cor branca e calça cinza. Ele sorri em direção à câmera e suas mãos estão dentro do bolso da calça.
#ParaTodosVerem: Fotografia do professor da UFPA Pedro Aum. Ele está de pé, sobre uma base de concreto, à frente do rio Guamá. O professor usa camisa social na cor branca e calça cinza. Ele sorri em direção à câmera e suas mãos estão dentro do bolso da calça.

Por Walter Pinto Foto Alexandre de Moraes 

Combinando a filosofia de levar a universidade ao interior do Pará e a visão de formar recursos humanos especializados para atender às demandas das atividades profissionais vocacionadas da região, a UFPA fundou, em 2015, o Campus de Salinópolis. Nessa história, está incluída a implantação dos cursos de Bacharelado em Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo e Engenharia Costeira e Oceânica. O campus também oferece as Licenciaturas em Física e Matemática e o Bacharelado em Turismo, em formato intensivo. Apesar do pouco tempo de funcionamento do campus, seus professores e pesquisadores têm desenvolvido projetos de pesquisa, ensino e extensão de destaque no âmbito nacional e internacional. Um bom exemplo vem do trabalho desenvolvido no Laboratório de Ciência e Engenharia de Petróleo (LCPetro), atrelado ao Grupo de Pesquisa em Ciência e Engenharia de Meios Porosos (GCEMP), liderado pelos professores Pedro Tupã Pandava Aum e Cláudio Regis dos Santos Lucas, contando também com a atuação do pesquisador Daniel Nobre Nunes da Silva e do técnico Francisco Moreira Lopes Junior. Nesta entrevista, Pedro Aum, doutor em Ciência e Engenharia de Petróleo, fala dos desafios, das perspectivas científicas, dos projetos e convênios do grupo e das pesquisas que visam melhorar a produção dos poços de petróleo, além dos estudos de redução das emissões de dióxido de carbono (CO2), por meio do armazenamento geológico, fundamental à redução do efeito estufa. Segundo Pedro Aum, “com a infraestrutura instalada e equipe montada, estamos trabalhando para colocar a UFPA entre as lideranças científicas nestas linhas de pesquisa”.

Os desafios

O foco principal dos estudos do grupo de pesquisa tem sido em rochas reservatórios do pré-sal brasileiro responsáveis por mais de 70% da produção nacional. As descobertas no pré-sal se destacaram como algumas das mais importantes em todo o mundo. Essa província é composta por grandes acumulações de petróleo leve, de excelente qualidade e com alto valor comercial, o que coloca o Brasil em uma posição estratégica em relação ao comércio de energia global. A província de exploração está localizada a cerca de 300 km da costa, em águas que chegam a 2.000 metros de profundidade. Para efeito de comparação, o ponto mais alto do Pará, na Serra do Acari, está a cerca de 1.906 metros do nível do mar. Além disso, depois de atingir o leito marinho, as sondas ainda precisam perfurar cerca de 5 quilômetros de rocha até chegar ao reservatório. Dessa forma, o caminho completo pode ter uma extensão de mais de 7 quilômetros. E é aí que o petróleo é encontrado. Como o nosso grupo de pesquisa tem o foco em estudos do pré-sal brasileiro, os experimentos realizados no LCPetro precisam reproduzir condições similares às deste ambiente. Para isso, utilizamos equipamentos que confinam amostras de rocha e aplicam pressões que podem chegar a 10.000 psi (a título de comparação, o pneu de um carro roda com uma pressão de cerca de 35 psi). O petróleo é produzido em poços similares aos artesianos. Uma técnica para melhorar a produção é a injeção de ácidos na rocha, de forma a dissolvê-la, aumentando a conectividade entre o reservatório e o poço. E aí vem outro desafio, injetar ácido nas rochas e prever como será o comportamento da dissolução dela, em condições desafiadoras como as encontradas no pré-sal.

Perspectivas científicas

O LCPetro é um dos poucos laboratórios no país com infra-estrutura adequada para realizar experimentos de escoamento de fluidos reativos (altamente corrosivos) em rochas, nas condições como as encontradas no pré-sal. Isso coloca o grupo em posição de destaque e como potencializador para contribuição científica no país, bem como para formação de recursos humanos altamente especializados. Atualmente, temos diversos alunos de pós-graduação que iniciam os seus cursos no Campus de Belém, nos Programas de Pós-Graduação em Engenha[1]ria Química (PPGEQ), Geofísica (CPGF), Geologia e Geoquímica (PPGG), e vêm desenvolver a parte experimental de seus projetos no laboratório, aqui, no Campus de Salinópolis. Entre eles, há diversos alunos que foram formados aqui, no curso de Bacharelado em Exploração e Produção de Petróleo, assim como formados em áreas correlatas, dentro e fora do estado. A perspectiva é que, em conjunto com grupos de pesquisa existentes no campus e com outros em consolidação, possamos formar um núcleo sólido para o desenvolvimento de um centro de pesquisa englobando diversos programas de pós-graduação no setor.

Contribuição para a Amazônia

Vale lembrar a forte contribuição da Região Norte para a história da produção de petróleo no país. Vejamos, por exemplo, a exploração na Província Petrolífera de Urucu desde 1986. Localizada no coração do Amazonas, a 650 km de Manaus, é fruto de um esforço exploratório na região que teve seu primeiro êxito em 1959, em Nova Olinda. O esforço exploratório, nessa época, foi coordenado por Belém. A operação de Urucu que persiste até hoje se coloca como um exemplo da capacidade técnica brasileira e como prova de que a exploração de óleo e gás pode ser feita em harmonia com o meio ambiente. Voltando os olhos para a exploração nas regiões das Bacias da Foz do Amazonas, de Barreirinhas e do Pará-Maranhão, as perspectivas são animadoras, ainda mais com necessidade de reposição de reservas do país e maior atenção das companhias a essas bacias. Nesse contexto, acreditamos que exploração e produção podem fomentar um desenvolvimento importante para a nossa região. A Universidade, por sua vez, desempenha papel crucial nessa empreitada. É importante que ela participe ativamente dos diálogos com governos, comunidades e indústrias, visando garantir que a exploração de petróleo seja feita com o menor impacto ambiental possível e que os royalties provenientes da produção sejam aplicados de maneira eficiente para promover o desenvolvimento do estado, preservar o meio ambiente e contribuir para o aumento do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da região. Além disso, a UFPA tem a missão de formar recursos humanos altamente qualificados e preparados para enfrentar os novos desafios de uma sociedade em constante mudança.

Projetos e convênios

O nosso primeiro projeto, de maior porte, foi com a Petrobras. Por meio dele, pudemos montar a infraestrutura inicial do laboratório. Atualmente, temos um projeto em execução com o Cenpes/Petrobras e outro, com a TotalEnergies. Esses projetos são importantes, porque trazem para a academia problemas relevantes para a indústria, a fim de que possamos ajudar a prover soluções. Isso também enriquece muito a formação dos nossos alunos, pois permite que eles tenham acesso a recursos, equipamentos, experiência prática, convívio com profissionais da indústria, desenvolvimento de habilidades específicas, networking e a bolsas de estudo, que são importantíssimas para a manutenção de diversos alunos nos cursos. Além disso, os financiamentos advindos dos projetos de pesquisa, do desenvolvimento e da inovação (PD&I) com as empresas são essenciais para a manutenção da infraestrutura de pesquisa instalada. Além dos projetos com as empresas, temos diversas frentes de trabalho sem financiamento específico, mas que visam ao desenvolvimento de estudos de ponta por meio do sinergismo interinstitucional e que se beneficiam da infraestrutura em rede. Podemos citar as parcerias com o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS/CNPEM), a USP, a Unicamp e a UFRN. Diversos dos nossos equipamentos possuem aplicações multidisciplinares de forma que a temática das parcerias é bastante variada, indo desde o imageamento de estruturas fossilíferas em rochas até os projetos sobre tratamento de águas.

Descarbonização

Sabemos que a redução das emissões de CO2 tem sido uma tendência mundial e é necessária para conter os efeitos adversos sobre o meio ambiente. Neste contexto, a descarbonização é o processo de redução das emissões de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono (CO2), resultante da queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás natural, em diversos processos e atividades. Uma das técnicas de descarbonização é o armazenamento geológico de CO2, que consiste em capturar o CO2 de processos industriais de fábricas e injetar e contê-lo no subsolo, ou seja, em vez de extrairmos petróleo de rochas, iremos utilizá-las para armazenar o CO2 gerado, reduzindo as emissões para a atmosfera. Estudos apontam que o armazenamento geológico de carbono será uma peça fundamental para frear o aquecimento global. Uma parte dos nossos estudos está focada no armazenamento geológico, com o objetivo de entender como o CO2 interage com as formações rochosas do nosso estado. Esta é uma parte essencial para reduzir as incertezas associadas a possíveis projetos de armazenamento geológico que possam ser desenvolvidos no estado. A informação obtida nos experimentos vai ajudar na tomada de decisão sobre a aplicação ou não do armazenamento geológico em determinada região. Além disso, mais uma vez, os nossos trabalhos contribuem com a formação de recursos humanos especializados e com uma visão multidisciplinar, algo que é essencial para o desenvolvimento do estado e do país.

Beira do Rio edição 167

 

 

 

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